Manter o sistema de freios em dia costuma ser tarefa simples. Via de regra, o manual do proprietário contém todas as informações técnicas e basta verificar os componentes a cada revisão, o que ocorre normalmente em intervalos de até 10 mil quilômetros.
Mas é comum que surjam imprevistos, incômodos e até a oferta de serviços quando você leva o carro à oficina. O mais corriqueiro é a retífica do disco, que promete recuperar o componente a um valor acessível — custa menos da metade de um disco novo. Será que funciona?
Segundo Leandro Vanni, engenheiro de serviços da rede DPaschoal, “se o serviço for necessário e a espessura (do disco) permitir a retífica, o ganho de frenagem vai compensar”.
Na prática, a retífica elimina sulcos irregulares da superfície do metal, o que aumenta o ponto de contato com as pastilhas e torna a frenagem mais eficaz. A prática, porém, é controversa.
Camilo Adas, conselheiro de tecnologia e mobilidade do futuro da SAE Brasil, só recomenda a retífica se a superfície estiver realmente irregular, e, ainda assim, diz que depende do caso. “Se houver trinca por carga térmica, por exemplo, pode ser pior”, alerta.
Outro artifício comum é quebrar as bordas das pastilhas quando o conjunto (mesmo novo) apresenta chiado. A solução, porém, não é recomendada por Raulincon Silva, coordenador de assistência técnica da Cobreq, fabricante de pastilhas.
“A solução não funciona com todos os carros e vai reduzir a área de contato das pastilhas com os discos, aumentando também o desgaste do componente”, explica.
Confira abaixo sete dicas valiosas sobre manutenção dos freios:
Troca de pastilhas — São as primeiras peças verificadas. Se estiverem gastas ou vitrificadas, é recomendado substituir imediatamente. E não se deve quebrar as bordas da face de contato.
“Mais de 80% das reclamações é sobre ruídos. A solução (de quebrar as bordas) pode atenuar, mas não funciona com todos os modelos e o desgaste das pastilhas será maior”, salienta Raulinson Silva, coordenador de assistência técnica da Cobreq.
Retífica de disco — Só vale fazer se a superfície estiver irregular. E deve-se observar a espessura do componente. Se estiver próximo do limite, a recomendação é substituir. No caso de trincas, substitua.
“A retífica pode criar um desgaste maior. Fazer o serviço a cada troca de pastilha é uma grande bobagem”, alerta Camilo Adas, conselheiro da SAE Brasil.
Trocar tambor por disco — Não é recomendado, exceto em carros de competição. Serviços feitos de forma inadequada também representam um risco de segurança, já que o veículo precisa ser testado e deve passar por ajustes. Essa troca modifica o comportamento dinâmico do carro e o resultado precisa ser conhecido em frenagens.
A complexidade e o custo não compensam a mudança, que ainda pode atrapalhar a venda posterior do veículo.
Peças paralelas — É bom evitar. O baixo custo pode seduzir, mas todo cuidado é pouco. “A recomendação é comprar sempre peças originais. É um custo/benefício bem perigoso. Hoje em dia, discos e pastilhas são certificados pelo Inmetro. Tem que buscar uma política de garantia clara dos componentes que serão instalados e do profissional que vai executar o serviço”, reforça Leandro Vanni, engenheiro da DPaschoal.
Manutenção preventiva — Não existe quando se fala dos discos, pastilhas ou tubos de borracha. Ou os componentes precisam de substituição imediata, ou ainda estão bons para uso. Isso é determinado pelas espessuras dos discos e pastilhas. No caso das borrachas, quanto ao ressecamento mediante análise por técnico especializado.
Prazo de revisão — O proprietário deve fazer uma inspeção visual e tátil dos discos, bem como a espessura das pastilhas – a rigor deve ser superior a meio centímetro.
Fluido de freio — Também se deve ficar atento a ruídos anormais ou mudanças na sensibilidade e altura do pedal de freio. Isso pode ser um sinal de que o nível do fluido de freio está baixo. Por isso, ao abrir o capô, é importante observar a situação do fluido, que cai conforme o desgaste das pastilhas aumenta.
Fora da garantia, é possível que a substituição precise ser feita anualmente. Isso varia de acordo com a utilização e graduação do fluido (DOT) escolhido pelo proprietário. Esse fluido tem propriedade higroscópica. Ou seja, tende a absorver umidade do ar — e essa água compromete sua eficiência, exigindo a sangria total e substituição.